segunda-feira, 4 de julho de 2022

https://twitter.com/i/status/1543996224155664384 

 

Por g1

 

'O Caso Celso Daniel': Contradições de morte de prefeito de Santo André viram série documental do Globoplay
Acervo documentário

O prefeito Celso Daniel foi assassinado em janeiro de 2002 em um crime que surpreendeu o país. O caso foi um dos mais comentados na época e vira e mexe volta a ser falado diante de tantas contradições que surgiram ao longo das investigações.

Exatamente 20 anos depois, as diferentes versões da morte do político são contadas na nova série documental do Globoplay, "O Caso Celso Daniel".

Com oito episódios, o projeto que começou em 2017 estreia nesta quinta (27). A cada semana serão disponibilizados dois capítulos. Assista a um teaser abaixo.

Veja teaser da série 'O caso Celso Daniel'
00:00/00:00

Erro ao carregar o recurso de vídeo.

Ocorreu um problema ao tentar carregar o vídeo. Atualize a sua página para tentar novamente.

Acesso gratuito

Faça seu login grátis e tenha acesso ilimitado às exclusividades G1

Veja teaser da série 'O caso Celso Daniel'

A série documental tem o propósito de mostrar os fatos a partir de personagens relevantes para a história como familiares, colegas de partido, jornalistas, advogados, além de delegados e promotores.

"Nosso foco foi esclarecer e montar uma história que desse conta dos fatos reais, dos fatos oficiais e das experiências vividas pelos personagens", afirma a produtora Joana Henning. Ela também é CEO do Estúdio Escarlate, produtora que desenvolveu a série em parceria com o Globoplay.

Inicialmente, a ideia era fazer um filme, mas ao longo do tempo o projeto foi sendo ajustado até virar uma série documental.

"A gente se depara com um história muito passional, com muita dor, para além da morte de uma pessoa querida, de um gestor público admirável, além de se deparar também com engenharias da política brasileira sensíveis", continua Joana.

"É uma responsabilidade enorme. A nossa busca é pela informação acima da opinião", diz a produtora.

Além de ótimos registros da cobertura de 2002, a produção também utiliza recursos como reconstituições e animações para recriar momentos com base em depoimentos e entrevistas.

"O grande mérito é mostrar os fatos com muita precisão, de diferentes maneiras, seja por meio de entrevistas com os protagonistas da história e da investigação, com a família, companheiros e adversários políticos", diz Erick Brêtas, diretor de Produtos e Serviços Digitais da Globo.

Celso Daniel foi prefeito de Santo André por dois mandatos — Foto: Acervo documentário 'O Caso Celso Daniel'

Celso Daniel foi prefeito de Santo André por dois mandatos — Foto: Acervo documentário 'O Caso Celso Daniel'

O executivo ainda ressalta o investimento no gênero do documentário por parte do streaming.

Entre 2022 e 2024, o Globoplay deve lançar cerca de 30 títulos, que se somam às séries sobre a cantora Nara Leão e a do caso Celso Daniel lançadas neste mês.

"Como plataforma, nós estamos abrindo espaço para os documentaristas brasileiros. A gente tem muito orgulho, porque o documentário é um gênero muito importante. Uma sociedade que consome documentário é uma sociedade mais informada", defende Brêtas.

Quem foi Celso Daniel?

Celso Daniel foi prefeito de Santo André por dois mandatos — Foto: Reproduçaõ/Globonews

Celso Daniel foi prefeito de Santo André por dois mandatos — Foto: Reproduçaõ/Globonews

O político do PT era um dos grandes líderes carismáticos da região do ABC. Filho de Bruno José Daniel, ex-prefeito de Santo André, ele enveredou na política depois de estudar filosofia e se formar engenheiro.

Celso foi eleito prefeito de Santo André em 1988 e assumiu o cargo no ano seguinte. Depois, ele foi deputado federal por São Paulo e voltou à prefeitura da cidade natal em 1997. Ele estava o cargo quando foi assassinado.

O prefeito era uma figura respeitada pelos membros do PT, como mostra o documentário com participações de José Dirceu, ex-presidente nacional do partido, e Gilberto Carvalho, secretário de comunicação de Santo André e posteriormente ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Fernando Henrique Cardoso, Mara Gabrilli e Eduardo Suplicy também estão entre os entrevistados.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, Celso Daniel foi morto porque descobriu a cobrança de propinas e tentou impedi-la. Os desvios abasteceriam o “caixa dois” do partido, segundo promotores. No entanto, para a polícia, o político foi morto em um crime comum.

Vários narradores

Bruno Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel, em entrevista à série documental do Globoplay — Foto: Divulgação/Clara Soria

Bruno Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel, em entrevista à série documental do Globoplay — Foto: Divulgação/Clara Soria

Com tantas contradições e visões diferentes, o documentário não tem apenas uma única voz que conduz a história ao longo dos episódios. São as entrevistas com os principais personagens que vão criando o fio condutor da narrativa.

Foram mais de 100 horas de entrevistas, com 50 pessoas envolvidas com o caso ou com Celso, dos quais 30 aparecem no documentário.

Bruno Daniel, irmão do prefeito de Santo André, é o primeiro depoimento e a participação é relevante aos longo dos capítulos.

A entrevista que aparece no documentário durou um dia inteiro, e a equipe já tinha encontrado com o professor universitário dois anos antes para conversas iniciais.

Ivone de Santana, viúva de Celso Daniel, durante entrevista para série documental sobre a morte do prefeito de Santo André — Foto: Divulgação/Clara Soria

Ivone de Santana, viúva de Celso Daniel, durante entrevista para série documental sobre a morte do prefeito de Santo André — Foto: Divulgação/Clara Soria

"As entrevistas com os familiares foram as mais difíceis, porque a gente enfrentava uma grande emoção por parte deles", diz o diretor Marcos Jorge, conhecido pelo filme "Estômago" (2007).

"É certamente um dos lados mais importantes da história, é muito emocionante ouvi-lo".

Ele destaca também a emoção nas participações da ex-mulher, Miriam Belchior, que também foi ex-Ministra do Planejamento, e da viúva e socióloga Ivone de Santana.

"A gente tem uma riqueza humana que dá uma camada a mais para o documentário. Não é só um 'true crime', são personagens fascinantes que você acompanha durante 20 anos. Acho que o público vai sentir isso", explica.

'Cascas de banana' por todos os lados

Diretor Marcos Jorge e a produtora Joana Henning nos bastidores da série 'O Caso Celso Daniel' — Foto: Divulgação/Clara Soria

Diretor Marcos Jorge e a produtora Joana Henning nos bastidores da série 'O Caso Celso Daniel' — Foto: Divulgação/Clara Soria

Explicar uma história tão complexa não é um trabalho fácil, mesmo quando se tem oito capítulos de 50 minutos. Mas as divergências de informações e caminhos deram um gás a mais para a equipe.

Em conversa com jornalistas, a produtora Joana Henning lembra de uma reunião em que foi discutido o risco de cair em "cascas de bananas" e nas versões apaixonadas que cercam o caso.

"Lembro de responder que a gente estava desbravando um bananal inteiro... Justamente o encontro com essas cascas de bananas que motivaram a equipe a ir atrás de informações não manipuladas sobre o caso", explica.

"A gente sempre tentou ponderar quando a excitação da curiosidade não podia flertar com sensacionalismo desonesto, mas deveria flertar com as curiosidades interessantes da história".

Joana também responde sobre a possibilidade de trechos do documentário serem tirados do contexto, ainda mais neste ano com eleições no segundo semestre.

"Esse é um risco que qualquer obra comunicação está correndo", diz. "A melhor forma de ligar com notícias descontextualizadas é a certeza da fonte, a certeza da honestidade no trabalho apresentado".